Antevisão da atmosfera de Vénus em 3D

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Imagem noturna de Vénus obtida no infravermelho pela sonda Akatsuki (JAXA). Créditos: ISAS, JAXA

A primeira abordagem a uma reconstituição tridimensional da circulação atmosférica de Vénus é feita num artigo de revisão, publicado na Geophysical Research Letters, de que é coautor Pedro Machado, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).

Este estudo reúne dados relativos à velocidade dos ventos e à temperatura atmosférica a diferentes altitudes obtidos no intervalo de um mês, e de forma independente, por duas missões espaciais, a MESSENGER, da NASA, e a Venus Express, da ESA, e por vários instrumentos no solo. É um importante contributo para que, no futuro, se consiga enfim entender o que originou e mantém a super-rotação da atmosfera de Vénus.

Segundo Pedro Machado (IA e FCUL), “este estudo consiste na primeira vez em que são integrados os dados a várias altitudes na atmosfera para se tentar reconstruir a circulação não só horizontal, mas também o deslocamento vertical do vento. A ideia é tentar perceber como funciona o fluxo do ar, quer à mesma altitude, quer a forma como a variação do vento numa certa altitude afeta uma camada da atmosfera acima.”

Esta primeira abordagem ao que se passa globalmente na atmosfera de Vénus é de grande relevância. Será útil na preparação de operações futuras, como as da missão Akatsuki (JAXA) em que o IA colabora, assim como no aperfeiçoamento dos modelos teóricos que procuram simular a circulação geral da atmosfera dos planetas e a de Vénus em particular.

“Há uma região na atmosfera de Vénus, acima da camada que está em super-rotação, que apresenta uma variabilidade surpreendente e que os modelos de circulação atmosférica global não são ainda capazes de caracterizar”, comenta Gabriella Gilli (IA e FCUL), investigadora na equipa de Pedro Machado. “Os dados de velocidade do vento e de temperatura descritos neste artigo fornecem valiosas balizas que irão apoiar os modelos teóricos na nossa compreensão dos processos que estão a acontecer nesta região intrigante.”

Um dos próximos passos na continuidade deste artigo agora publicado, diz Pedro Machado, é a obtenção de dados com maior resolução, observando em maior detalhe. A sua equipa está ativamente a trabalhar nesse sentido, por exemplo, no estudo da propagação das perturbações na densidade do ar. Estas ondas transportam energia através da atmosfera e compreendê-las será mais um contributo para a tentativa de explicar a super-rotação da atmosfera do planeta Vénus.

Para este estudo, agora publicado na Geophysical Research Letters, a equipa de Pedro Machado contribuiu com medições da velocidade do vento ao nível do topo das nuvens, obtidas com o espectrógrafo de alta resolução UVES, instalado no Very Large Telescope (ESO).